Chuva de Oz

Corria pela rua catando pingos que encharcam. Nos torós da Santa Rita fazíamos barragens dos montes de areia acumulados em sargetas pelas construções vizinhas. A água leva o que não cabe nas mãos. Mas um dia foi especial. Fomos ao Teatro Marília assistir ao "Mágico de Oz" – era noite, um programa fantástico de menina! Para o escuro da platéia animam árvores e roupas coloridas em tiras espalhando emoção, fantasia e esquecimento, onde (em algum lugar) se esconde um tio artista atrás do palco. Aplauso.

Na volta mais espetáculo: a tempestade. Corremos para o quarto, pulamos nas camas colados no vidro, imobilizamo-nos pelo desconhecido. A respiração fazia manchas de vapor no vidro da janela. “Acabou a luz!”. Diante da janela uma escuridão imensa e o brilho das folhas das mangueiras em ventania. Quietos, o contraste das sombras dos galhos e os raios dos trovões eram aterrorizantes. Encolhia de medo e retornava ao assombro sem perder tempo. Tudo era continuação e quem sabe nesse dia descobrira o encanto. Uma noite de chuva forte e gelada como a de ontem amanhece em silêncio. Espíritos em forma de cachorros calados; um galo recomeça, passarinhos espalham. Dias de saudação, de recolhimento e de sentir saudades.
[4out2004]

Nenhum comentário:

Postar um comentário